Há décadas que o modelo cooperativista tem se mostrado como um dos mais eficientes e justos, para garantir desenvolvimento econômico e social a grande parte da população em seus diferentes recortes. Graças às cooperativas milhares de pequenos produtores, empresários ou profissionais autônomos conseguem acesso a mercados e a aquisição de produtos e serviços com valores reduzidos. Da mesma maneira, fazem chegar a outros milhares de brasileiros os produtos e serviços desses cooperados, democratizando financiamentos, serviços de saúde e alimentos, por exemplo.
Um dos importantes viés dessas empresas associativistas é o de fomentar a adoção de novas tecnologias e melhores práticas pelos seus cooperados, seja por meio de trabalho de conscientização e difusão de conhecimento, seja pela negociação em grupo desses serviços.
Dentre todas as modalidades de cooperativas, as agrícolas são de grande destaque no Brasil pelo potencial e aptidão de nosso país agrícola e de dimensões continentais. O cooperativismo nesse setor tem papel fundamental no fomento às novas tecnologias e melhores práticas ao meio rural, democratizando tecnologias, compartilhando experiências e casos de sucesso, permitindo projetos com escala reduzida que não seriam viabilizados sem a agregação de múltiplos produtores rurais devido a sua complexidade e custos envolvidos. Entretanto, não há avanços significativos na eficiência, sustentabilidade e produtividade no campo sem a expansão geográfica da conectividade. Sem “conectar” máquinas, pessoas e sensores, é inviável a implantação de agricultura de precisão, tecnologias e melhores práticas de gestão.
Hoje, grande parte das sedes das fazendas produtivas brasileiras possuem alguma forma de internet de alta velocidade. Sem isso é impossível a emissão de guias e nota fiscal necessária ao transporte e comercialização dos produtos agrícolas. O grande desafio do campo está em estender essa conectividade ao campo, de forma otimizar o plantio, manejo e colheita. O Brasil já possui entre 20 e 30% do campo conectado – uma área considerável, mas há muito a se fazer. Há as áreas naturalmente cobertas pelas redes das operadoras de telefonia e há uma área importante coberta pelos investimentos dos próprios produtores rurais, interessados nos ganhos de produtividade, eficiência, sustentabilidade e qualidade de vida proporcionados pelo tráfego de dados.
A internet no campo permite a implantação da agricultura digital e agricultura de precisão, com múltiplos benefícios, por exemplo:
- Redução de até 18% na sobreposição e falhas de plantio: Ao monitorar-se todo o ciclo de plantio com GPS de precisão e levantamento de dados de telemetria das máquinas e manejo associados obtém-se otimização do uso da área e maximização da produtividade;
- Economia de até 30% na água e energia utilizadas na irrigação: Com o monitoramento em tempo real da umidade do solo e evapotranspiração, pode-se a otimizar o volume e tempo de irrigação, com impactos na redução do consumo de água e economia de energia, ganho em sustentabilidade e eficiência energética;
- Maior eficiência no monitoramento de pragas: Aplicando-se ferramentas modernas de processamento de imagem para identificação de pragas e também pulverização seletiva com aplicação de drones reduz-se a demanda por profissionais no monitoramento e controle de pragas, assim como minimiza-se a aplicação de agroquímicos na lavoura;
- A utilização de meteorologia de precisão: O ganho na exatidão da previsão meteorológica tem impactos reais na redução de desperdícios em aplicação de defensivos ou fertilizantes, identificando-se janelas ideais para sua aplicação, assim como janelas ótimas para colheita, com ganho de qualidade, produtividade e redução de custos;
- Um exemplo que parece futurista, mas é bem possível com equipamentos simples e a tecnologia 4G, é o uso de realidade aumentada no suporte remoto para manutenção de máquinas e tratores, permitindo que um técnico faça a verificação ou mesmo oriente a correção de um problema sem a necessidade de se locomover até a propriedade. São horas economizadas desse técnico e da máquina parada. Experiência real demonstra saltos de até 15% na disponibilidade das máquinas em operação;
Isso sem falar em questões de segurança e qualidade de vida das pessoas que vivem e trabalham na região, como acesso à informação, educação e comunicação.
O ConectarAGRO já participou na expansão de mais de 14 milhões de hectares cobertos, mas, quando observamos com atenção esses números, vemos que a maior parte ainda é constituída de grandes empresas agrícolas que possuem capital para investir de maneira autônoma e têm áreas grandes o suficiente para viabilizarem um retorno financeiro a curto prazo.
Os pequenos e médios produtores enfrentam dificuldades para adotarem essas tecnologias, devido ao elevado investimento inicial e complexidade técnica, daí, surge o importante papel das cooperativas agrícolas como facilitadoras da democratização da internet rural.
Uma torre de celular da tecnologia 4G, que é a mais recomendada para áreas rurais, pode cobrir mais de 20 mil hectares dependendo da topografia, o que é exagerado para proprietários de fazendas com uma centena de hectares, mas não é muito quando somados todos os produtores de uma cooperativa.
São mais de mil cooperativas agrícolas que reúnem cerca de um milhão de cooperados no Brasil. É um enorme potencial de levar esse desenvolvimento ao campo de forma rápida, simples e viável economicamente.
Uma dúvida que muitas vezes paira na mente dos cooperados é: vamos investir do nosso bolso para implementar essa tecnologia e os produtores não cooperados que estiverem dentro da área de cobertura serão beneficiados do mesmo jeito? O fato é que há pelo menos dois modelos de negócios que podem ser adotados pela cooperativa: o de comunicação tradicional, no qual o sinal fica aberto a todos que tiverem o chip daquela operadora de telefonia, e uma rede privada, com sinal fechado, disponibilizando-se acesso exclusivamente aos membros da cooperativa.
Esse segundo modelo, de sinal fechado, dá à cooperativa o poder de definir quem pode utilizar a rede e, adicionalmente, criar modelos de negócio customizados à estrutura e cultura da região. Nesse cenário a cooperativa pode:
- Subsidiar a conectividade a seus cooperados, aumentando o acesso aos seus serviços, estreitando o relacionamento com seus associados e fidelizando seus cooperados;
- Oferecer o serviço para cooperados, rentabilizando o investimento na infraestrutura de conectividade, melhorando o equilíbrio financeiro da cooperativa;
- Lançar novos serviços digitais atrelados à conectividades, como estações meteorológicas conectadas, serviços de segurança patrimonial, monitoramento de incêndio e muito mais, modernizando os cooperados e gerando novas oportunidades de negócio para a cooperativa e região.
Já existem cooperativas, em especial nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e São Paulo, estudando e desenvolvendo modelos de conectividade. Os desafios enfrentados não são tecnológicos, mas relacionados ao papel da cooperativa, sua visão e missão no futuro e os modelos econômicos desejados pelos cooperados.
Acredito fortemente que as cooperativas agrícolas serão protagonistas na democratização da conectividade rural e no aumento da eficiência, produtividade, sustentabilidade e salto na qualidade de vida do homem do campo.
Contem com a ConectarAGRO nesse processo e desenvolvimento da conectividade como mais um serviço das cooperativas agrícolas brasileiras.
*Renato Bueno é Líder do Comitê de Expansão da ConectarAGRO