Começamos 2024 com o olhar para o futuro, com foco em 2025, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como Ano Internacional das Cooperativas. A decisão da ONU reconhece as cooperativas como um instrumento de paz e a nossa capacidade de apoiar pessoas e comunidades com benefícios sociais, econômicos e desenvolvimento sustentável.
Precisamos aproveitar essa oportunidade para reforçar nosso compromisso com os princípios do cooperativismo, colocá-los em prática, e mostrar que somos diferentes do modelo econômico convencional. Nossa prioridade são as pessoas, e elas valem muito.
O reconhecimento da ONU certamente abrirá portas para o crescimento do cooperativismo em todo o mundo, assim como ocorreu em 2012, quando o Ano Internacional das Cooperativas foi declarado pela primeira vez. O apoio da entidade global é uma oportunidade de ouro, mas o trabalho que levará aos resultados que esperamos será feito por nós, nas nossas cooperativas, no olho no olho com os cooperados, no trabalho diário para melhorar a vida das pessoas e das comunidades em que atuamos.
Para isso, não podemos nos afastar dos princípios cooperativistas: eles são e serão cada vez mais o nosso maior diferencial competitivo. As cooperativas alemãs, por exemplo, berço do cooperativismo financeiro, já perceberam essa necessidade de destacar os valores cooperativistas e estão investindo em ações e comunicação para mostrar à sociedade que o cooperativismo é diferente, é solidário, se importa com as pessoas.
O cooperativismo tem a missão de incluir, especialmente o cooperativismo financeiro. E incluir as pessoas para que elas participem da riqueza que elas mesmas produziram. Assim, o Ano Internacional das Cooperativas será a vitrine ideal para mostrar isso na prática, não só em palavras.
Sabemos que um dos motivos que levaram a ONU a reconhecer o cooperativismo como um agente de transformação mundial é nosso papel para que a economia possa crescer de forma mais sustentável. O movimento cooperativista foi o primeiro grupo socioeconômico do mundo a apoiar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um conjunto de metas globais para promover um mundo melhor.
A ONU conta com as cooperativas para reduzir a insegurança alimentar e as desigualdades, garantir trabalho decente e inclusão econômica para milhões de pessoas e, claro, para enfrentar a crise climática. Nessa área, nossa contribuição se dá tanto pela redução das emissões de gases de efeito estufa nas nossas atividades, quanto no apoio às populações mais vulneráveis para se adaptarem aos efeitos das mudanças do clima.
O caminho para essas ações, as cooperativas conhecem bem. Afinal, a agenda ESG, de compromissos ambientais, sociais e de governança, está na essência do nosso modelo de negócios. Em 2025, temos que mostrar que, além de fazer parte do nosso DNA, o ESG está no nosso dia a dia. Na concessão de crédito, por exemplo, as cooperativas financeiras têm de ter responsabilidade sobre como os recursos serão utilizados. Queremos fazer parte de projetos com impacto positivo para o meio ambiente e com responsabilidade social.
Além da rastreabilidade, como cooperativistas, também é nosso papel promover a informação sobre o assunto. Nem sempre o cooperado que busca o crédito terá conhecimento sobre ESG, mas a cooperativa tem a obrigação de informá-lo e oferecer soluções justas e sustentáveis, em uma visão integrada. A formação começa dentro das cooperativas, com a capacitação dos colaboradores, para que as operações estejam sempre de acordo com os ODS da ONU e os pilares ESG.
A declaração de 2025 como Ano Internacional das Cooperativas também é um chamado à intercooperação, porque, sem dúvida, juntas as cooperativas são mais fortes. Cerca de 12% da população mundial é cooperativista. São 1 bilhão de cooperados em mais de 3 milhões de cooperativas espalhadas pelo globo. Além de 280 milhões de postos de trabalho, o cooperativismo movimenta US$ 2,2 trilhões por ano.
E sabe como melhorar ainda mais esses números? Com intercooperação. Colocando em prática nosso sexto princípio, encarando a ajuda mútua como uma forma de atuação estratégica. Para as cooperativas financeiras brasileiras, o desafio é urgente. É preciso trabalhar pensando não nas instituições cooperativas, mas nos 18 milhões de cooperados que confiam suas economias ao nosso ecossistema.
Tenho absoluta convicção que a intercooperação vai nos tornar mais competitivos, mas é preciso vontade política para levar adiante iniciativas que fortaleçam o sistema cooperativo como um todo e nos mantenham como uma alternativa justa aos bancos convencionais.
Aqui na Confebras, acreditamos na intercooperação como uma das principais ferramentas para o fortalecimento das cooperativas independentes e de todo o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo. E estamos colocando isso em prática no projeto Confebras UNE, uma plataforma de serviços compartilhados que irá revolucionar nosso modelo de negócio com a oferta de produtos e serviços que impulsionarão o crescimento das cooperativas singulares independentes, reverberando para todo o ecossistema.
No Confebras UNE, vamos conectar cooperativas independentes a centrais e sistemas para que elas possam acessar as soluções que necessitem – sejam de tecnologia, financeiras, governança, marketing, entre outras – dentro do ambiente cooperativista, como orientam nossos princípios.
O projeto Confebras UNE é o embrião da intercooperação. Essa plataforma é o começo de tudo o que vai acontecer daqui para frente com relação à intercooperação no cooperativismo financeiro. É um projeto disruptivo, alicerçado no 6º princípio cooperativista – o da intercooperação. Trata-se de um desenho sistêmico que incentiva e promove o compartilhamento de soluções de forma mútua, com um olhar para o cenário atual, estendendo-se para um futuro mais próspero.
Para fechar, gostaria de fazer um pedido muito especial: vamos falar a linguagem dos cooperados. Quanto mais conhecimento sobre cooperativismo as pessoas tiverem, mais elas vão entender os objetivos do nosso modelo de negócios e se alinhar ao nosso trabalho. Quando alguém se associa a uma cooperativa, a razão não é apenas econômica, é uma atitude revestida de solidariedade, pelo bem comum.
Vamos juntos rumo a 2025 como guardiões dos princípios cooperativistas!
*Moacir Krambeck é presidente da Confebras