Os pontos mostrados pela pesquisa sobre as percepções dos agricultores em relação ao crédito rural no Brasil, realizada pela McKinsey, também podem ser atacados pelo uso mais intensificado da digitalização no campo, um dos focos das agfintechs.
As ferramentas digitais são importantes no cotidiano de 82% dos produtores ouvidos na pesquisa. Mesmo assim, o avanço ocorre de forma mais intensa na comunicação entre os agricultores e os agentes financeiros, feita cada vez mais pelo WhatsApp, do que no processo de contratação de financiamentos em si, que ainda depende de um contato físico.
“São poucas agfintechs que conseguiram escalar o processo puramente digital, sem calor humano. O ideal é encontrar um balanço entre o digital e esse calor humano por trás”, afirma Marina Mansur, sócia da McKinsey.
Para Mikael Djanian, foi essa constatação que fez as cooperativas de crédito aumentarem a presença física, com a abertura de novas agências pelo país. “O relacionamento com o gerente e a disponibilidade da agência física para tomar um café é importante. Esses itens não são excludentes, são cada vez mais complementares”.
As agfintechs têm buscado firmar parcerias com redes de distribuidoras de insumos para chegar aos produtores espalhados pelo país e solucionar essa falta de acesso ao cliente. “Prazo de liberação de recursos, necessidade de preencher papelada e falta de documentação é o que várias fintechs estão atacando para ter a experiência 100% digital e um trabalho mais fluido”, completa.
Segundo a pesquisa, a disponibilização do crédito ocorre, na maioria das vezes, entre 11 e 40 dias, e os produtores reclamam desse prazo. “A digitalização de processos internos ainda é uma grande oportunidade aos agentes financeiros, justamente para conseguir suprir essas dores da experiência”, acrescenta Mansur. A disponibilidade maior de dados atualmente e o tratamento dessas informações podem ser a chave para melhorar esse ponto, diz.
A pesquisa da McKinsey mostrou ainda que 64% dos produtores disseram não possuir um plano de sucessão dos seus negócios. “Grande parte dos produtores (87%) ainda atua como pessoa física e quase não é profissionalizado nesse sentido. E faltam planos de sucessão. Esses dois itens ainda travam muito o acesso ao crédito”, ela avalia. “Quanto mais bem estruturada, formalizada e planejada for a fazenda, mais fácil será para destravar o crédito”, acrescenta.
A McKinsey notou ainda que há espaço para aumentar a presença feminina nas fazendas, já que apenas 51% dos entrevistados dizem ter mulheres em cargos permanentes nas fazendas. Postos administrativos e financeiros são os mais comuns.
Fonte: Globo Rural