A partir de 2024 a C. Vale, cooperativa agroindustrial com atuação no Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Paraguai, adotará um novo modelo de gestão, com um CEO à frente da diretoria executiva. A decisão, segundo o presidente da C. Vale, Alfredo Lang, faz parte do plano de modernização, elaborado nos anos 1990, e já vinha sendo planejada antes do incêndio na unidade de grãos da cooperativa em Palotina (PR), em julho deste ano. O acidente deixou 10 mortos e 10 feridos.
“É uma consequência do crescimento da cooperativa. Queremos agregar valor à produção primária para melhorar a competitividade e a rentabilidade”, disse Lang, em entrevista ao Valor.
Ele observou que o foco na agroindustrialização é uma das propostas do plano, uma vez que a cooperativa deixou de ter um perfil regional para ser uma empresa com atuação global, com atividades em áreas como grãos, insumos, frango, peixes, leite, suínos, mandioca, supermercados, aviação, rações, combustíveis, transportadora.
“Não dá para conduzir o dia a dia com o planejamento de longo prazo, de maneira eficiente, sem divisão de tarefas”, disse.
O novo modelo de gestão, aprovado pelos cooperados em assembleia extraordinária no dia 24 de outubro, começará a ser colocado em prática após assembleia geral ordinária no início de 2024. Para o cargo de CEO, a C. Vale busca um profissional que tenha conhecimento de gestão em cooperativas e, preferencialmente, que esteja afinado com a filosofia de trabalho da empresa.
“Esse novo formato de gestão vai dar um impulso para a cooperativa, com maior agilidade na tomada de decisão e execução”, afirmou o presidente. “Visamos um modelo sustentável de produção e transparência, que é outra tendência forte”.
Como parte do projeto de agroindustrialização e ampliação da cooperativa, a C. Vale inaugura amanhã – data em que completa 60 anos -, no complexo em Palotina, uma esmagadora de soja. Com capacidade para processar 60 mil sacas de soja por dia, a indústria irá produzir farelo e óleo de soja.
O empreendimento recebeu investimento de mais de R$ 1 bilhão e ocupa 12 hectares. Inicialmente, a esmagadora receberá soja dos cooperados do oeste e noroeste do Paraná e do Paraguai. Também há a possibilidade de ser utilizada a produção dos cooperados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
Os produtos da nova indústria serão comercializados no mercado interno, mas também exportados para União Européia e Ásia. “Nosso foco são sempre os mercados mais exigentes em qualidade porque eles remuneram melhor”, disse Lang. A esmagadora tem capacidade de armazenagem para 4 milhões de sacas de soja e 68 mil toneladas de farelo.
Ao mesmo tempo em que inaugura uma nova planta no complexo industrial, a C.Vale faz obras para reconstruir a unidade de grãos atingida pela série de explosões em 26 de julho. Carlos Arauz, assessor jurídico da C. Vale, disse à reportagem que a primeira etapa consiste na reforma da fábrica de ração, que está em execução, e na sequência será feita a reconstrução das estruturas de recebimentos de grãos, que teve parte destruída.
Dos 10 trabalhadores feridos, dois estão em licença e os demais já retornaram às atividades. De acordo com o advogado, a cooperativa já adotava uma política de segurança do trabalho, mas intensificou ações voltadas à prevenção. Quanto às indenizações às famílias das 10 vítimas fatais – oito delas haitianos – , Arauz disse que cinco acordos já foram fechados e os demais estão em processo na Justiça do Trabalho.
Segundo o delegado Rodrigo Baptista, de Toledo (PR), responsável pelas investigações das causas do acidente, o inquérito está em trâmite, com cerca de 30 pessoas já ouvidas, documentos e relatórios reunidos. Ainda são aguardados o laudo da explosão, do Instituto de Criminalística, e alguns depoimentos para que o processo seja finalizado.
Fonte: Globo Rural