Inovar e repensar o futuro das cooperativas de crédito. Com esta missão, começou no dia 23 de julho em Vancouver, no Canadá, a Conferência do Conselho Mundial das Cooperativas de Crédito, a WOCCU. Reunindo lideranças de diversos países, o evento – que se encerrou ontem, 26 – trouxe para o seu palco os temas de maior interesse de cooperados e lideranças do mundo todo, incluindo debates sobre liderança, ética, inovação nos negócios, resiliência, sustentabilidade e outros.
Com a presença de mais de 3 mil pessoas de 60 países, a Conferência mais uma vez atuou como um ambiente para a exploração de oportunidades e perspectivas para o fortalecimento das cooperativas de crédito, que em todo mundo atuam levando prosperidade financeira, transformação e impacto social.
Elissa McCarter LaBorde, presidente e CEO da WOCCU – que recentemente concedeu uma entrevista exclusiva para a MundoCoop – destacou em seu discurso anual sobre o movimento, os avanços e barreiras encontradas, lembrando que as cooperativas do setor devem permanecer unidas. Entre os maiores desafios, ela destacou a inflação em alta no mundo todo, os impasses regulatórios, a migração e ainda, a guerra que segue em curso na Europa. “Esses desafios testam nossa determinação, mas também nos oferecem uma oportunidade de enfrentá-los e mostrar nosso compromisso com um propósito comum de colocar as pessoas acima do lucro. Esse é o caminho das cooperativas de crédito”, afirmou.
LaBorde ainda expôs como as cooperativas de crédito e cooperativas financeiras ajudaram seus membros a permanecerem resilientes durante a guerra na Ucrânia, após um terremoto na Turquia e durante um aumento da migração na América Latina. “Em um exemplo, no Peru e no Equador, onde o Conselho Mundial trabalha há quase cinco anos, as cooperativas de crédito fazem parte de um ecossistema nacional, trabalhando com o governo, trabalhando com empresas de tecnologia e municípios para tentar promover a inclusão econômica dos cidadãos mais vulneráveis nessas comunidades – trabalhando com migrantes, especialmente com mulheres, que foram forçadas a fugir de seus países de origem”, disse McCarter LaBorde. “E este é um programa notável, porque mostra que, mesmo diante da disrupção, as cooperativas de crédito fazem parte da ponte e impulsionam o crescimento inclusivo, mesmo com aqueles que são muito difíceis de alcançar e muitas vezes deixados para trás.”
Somando a outros inúmeros encontros e reuniões bilaterais, a Conferência de 2023 ainda trouxe uma novidade. A WYCUP realizou um evento inédito em Vancouver, hospedando a Cúpula de Líderes Emergentes Globais. Mais de 170 jovens profissionais de cooperativas de crédito exploraram perspectivas globais sobre desafios compartilhados, destacaram o empreendedorismo social e examinaram oportunidades para apoiar comunidades sustentáveis e resilientes por meio de cooperativas de crédito.
Protagonismo brasileiro
O Brasil, mais uma vez, marcou presença no evento de forma massiva. O país, que conta com mais de 13 milhões de cooperados somente no Ramo Crédito, levou para a Conferência da WOCCU uma grande delegação, com quase 300 pessoas. A Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito, a Confebras, participou do evento ao lado de diversas cooperativas, incluindo representantes do Sescoop Rondônia, Sicoob Central São Paulo, Sicoob Nossocrédito, Sicoob Credip, Sicoob Central Unicoob, em um grupo com 36 cooperativistas. Além da programação oficial da conferência, o grupo do Intercâmbio Confebras particiou ainda de uma agenda de atividades exclusivas, entre elas uma visita à Blue Shore Financial, uma cooperativa de crédito no Canadá com mais de 40 mil clientes e US$ 6,5 bilhões em ativos.
Participando de várias palestras, os representantes brasileiros utilizaram o espaço neste ano para mostrar alguns dos avanços do setor no país, principalmente no ambiente regulatório. As articulações pela aprovação da Lei Complementar 196/22, que atualizou a legislação que rege o cooperativismo de crédito no Brasil, foi um dos focos da fala do representante do Sicredi no Grupo Técnico Executivo do Conselho Consultivo Nacional do Ramo Crédito do Sistema OCB (Ceco), Clairton Walter, também superintendente do Sistema Sicredi, durante exposição na Conferência, na terça-feira.
Segundo Walter, a interlocução junto aos Três Poderes, em especial ao Banco Central do Brasil (órgão regulador, integrante do Poder Executivo) e a posição de consenso entre os membros do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC) foram fatores determinantes para a conquista do movimento brasileiro. A Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop) foi citada como um dos pilares de suporte da defesa do segmento dentro do Parlamento e a voz para assegurar a aprovação de matérias importantes, além de impedir que outras de impacto negativo avancem.
O painel foi dedicado à importância das estratégias de defesa do modelo de negócios cooperativista diante de autoridades públicas para promover o crescimento e o fortalecimento do coop de crédito. Outro diferencial do coop brasileiro, detalhado por Clairton, é a coordenação centralizada na Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), que congrega todos os sistemas cooperativos, as coops independentes e o Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCC), para discutir tecnicamente as necessidade e desafios que devem ser superados pelo segmento.
Além de mostrar tais conquistas do setor, a Conferência foi um importante palco para o início e consolidação de novas parcerias entre cooperativas brasileiras e de outros países. O Sicredi, assinou acordo de cooperação com a Federación de Cooperativas de Ahorro, Crédito y Financeiras de Colômbia (FECOLFIN). A assinatura do convênio tem como objetivo fomentar o intercâmbio entre as cooperativas de ambos os países, e a expectativa é que sejam promovidas ações voltadas à liderança de jovens e de mulheres dos sistemas cooperativos, estimulando a implementação dos Comitês Jovem e Mulher nas instituições colombianas, similares aos modelos já existentes no Sicredi.
“A intercooperação faz parte da nossa essência e ficamos muito felizes com esse convênio, que demonstra o nosso interesse genuíno em construirmos uma sociedade cada vez mais próspera, por meio da troca de conhecimentos e de experiências. Destaco aqui o importante papel do Conselho Mundial das Cooperativas de Crédito, fundamental na assinatura desse convênio e para que intercâmbios como esse sejam sólidos e recorrentes. Precisamos estabelecer mais pontes e desconstruir cada vez mais barreiras, a fim de fortalecer o cooperativismo de crédito no mundo”, afirmou Manfred Dasenbrock, diretor da WOCCU e presidente da Central Sicredi PR/SP/RJ.
Somado a isso, o Sicredi ainda se destacou durante a Conferência, durante a entrega do reconhecimento WYCUP – World Council Young Credit Union People, concurso realizado com o objetivo de estimular a formação de jovens lideranças e reconhecer projetos com potencial de causar influência global no cooperativismo de crédito. Na ocasião, o projeto “Donas do Negócio” que visa estimular o empreendedorismo, o empoderamento e a qualificação das mulheres, foi agraciado com o prêmio.
Composta por mais de 150 membros, entre cooperativas singulares, cooperativas centrais e o Centro Cooperativo Sicoob, a presença do Sicoob mais uma vez reforçou a relevância e o protagonismo do sistema cooperativo de crédito brasileiro no cenário mundial. “Estamos extremamente orgulhosos de estar com uma delegação tão expressiva na Conferência Mundial das Cooperativas de Crédito em Vancouver. Isso demonstra a força e a união do Sicoob em busca de um mundo mais justo e sustentável, por meio do fortalecimento do cooperativismo. Temos muito a contribuir e a aprender com as cooperativas de outros países, e tenho certeza de que essa experiência será enriquecedora para todos nós”, ressaltou Marco Aurélio Almada, diretor-presidente do Sicoob, em data anterior ao início da Conferência.
A Cresol também esteve presente, levando uma delegação de 30 dirigentes, que participaram de reuniões e diálogos com outras lideranças do setor. “Sempre crescemos muito quando nos reunimos com pares do mundo todo para compartilhar perspectivas e explorar oportunidades para maior colaboração e engajamento por meio do movimento das cooperativas de crédito. Afinal, cooperar é a base da nossa instituição. E aqui podemos não apenas aprender, mas também colaborar com nossas experiências e visão”, disse Adriano Michelon, vice-presidente da Central Confederação.
Próximo passo
No próximo ano, o Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito sediará a Conferência Mundial de Cooperativas de Crédito de 2024 em colaboração com a Credit Union National Association (CUNA/EUA), de 21 a 24 de julho de 2024, em Boston, MA.
Por Redação MundoCoop, com informações de WOCCU