Em 35 anos de trânsito no cooperativismo, pude constatar boas e más experiências no setor. Em geral e na prática, o ‘instrumento cooperativa’ é o mesmo; se configura com seus valores, princípios e elevado potencial de atingir seus propósitos.
Portanto, quero acreditar, que o exercício da propriedade, é um dos fatores mais determinantes para o alto ou baixo grau de êxito dos resultados de uma cooperativa. Ou seja, este fator diferencial está vinculado, principalmente, a maior ou menor capacidade/atitude dos cooperados exercitarem, tomarem em suas mãos, de fato, a posse daquilo que lhes pertence, a propriedade da cooperativa.
Por vezes escuto: “a cooperativa não faz isso ou a cooperativa fez aquilo...”
Mas ora! Em essência, o que é a cooperativa, senão o reflexo da vontade de seus próprios donos?
Eis aí o ponto deste texto!
Se os donos não se enxergam nas decisões e postura da cooperativa, talvez seja porque não estejam exercitando a sua propriedade, o seu status de donos, está em modo off.
Contribuíram e/ou estão cientes dos objetivos? Das estratégias? Estão de acordo? Estão acompanhando os atuais obstáculos do setor e o desempenho da cooperativa? Estão satisfeitos? Querem mudanças?
Tenho ciência que isso requer energia e tempo das pessoas e hoje, parece que estes recursos estão cada vez mais disputados e escassos.
Mas se tivermos clareza, de que o cooperativismo, é um dos caminhos mais modernos e potentes, no sentido da expressão democrática, da economia colaborativa, do combate às desigualdades extremas e do protagonismo coletivo organizado, em busca de resultados que possam impactar positivamente e exponencialmente pessoas e comunidades, então, não podemos (ou não deveríamos) renunciar ao exercício daquilo que nos pertence.
Temos, a priori, na cooperativa, um ambiente para sermos protagonistas de grande parte dos resultados que perseguimos. Mas se decidirmos sermos apenas coadjuvantes, passivos ao que nos cerca, estamos de certa forma, virando as costas para os potenciais resultados, declinando da oportunidade que temos de transformar, reduzindo nossas chances de intervir, abdicando de contribuir com nossa inteligência e experiência, chancelando eventual falha por nossa omissão, transferindo a outros a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso daquilo que nos pertence.
A história da humanidade, nos conta que a posse das coisas (bens, recursos, riquezas…) sempre foi (e continua sendo) motivo de grandes disputas. Então, se temos algo tão especial, não faz sentido algum não exercermos a nossa posse.
E você possui ou não possui uma cooperativa?
Exercita ou não exercita a sua propriedade?
Recordando que o melhor exercício, se compatibiliza com o adequado conhecimento. Mas isso, já é assunto para uma outra oportunidade.
Por fim, mantenho inabalável minha convicção na incomparável capacidade e potencial de transformação que existe no cooperativismo (e nas pessoas donas dele e que exercitam, de fato, a sua propriedade).
*Silvio Giusti é Consultor em cooperativismo