A ideia básica por trás das cooperativas de crédito é ter, ao invés de donos, associados que se unem em torno de um objetivo em comum, para proporcionar uma melhor situação financeira aos seus membros. De acordo com o mais recente Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC), publicado pelo Banco Central (BC) no final do ano passado, os associados no Brasil somaram 13,6 milhões em dezembro de 2021, aumentando a representatividade de integrantes pessoas jurídicas, que já correspondem a 15% do total. Por sua vez, a parcela da população brasileira ligada a essas organizações atingiu o patamar de 5,4%, registrando crescimento em todas as regiões.
De acordo com o executivo do mercado financeiro e sócio-proprietário da Goose Consultoria & Treinamentos, Guilherme Delôgo, as cooperativas de crédito têm ganhado espaço na busca por empréstimos e serviços financeiros em todo o país. “Tratam-se de opções seguras para toda operação financeira dos cooperados e associados, já que são fiscalizadas pelo Banco Central, a exemplo dos bancos convencionais. Isso incentiva não apenas a adesão dos associados que moram em grandes centros, mas também daqueles que residem em comunidades mais remotas”, explica. “E mais que isso: o dinheiro investido nas organizações locais tende a permanecer na comunidade, girando e alimentando a própria economia regional”, complementa.
Para se ter uma ideia da atual expansão, se somadas, elas representariam hoje o 4º maior banco brasileiro. Os ativos totais do SNCC atingiram R$ 459 bilhões ainda conforme o estudo do BC, com crescimento de 23,5% ao ano. Essa taxa é superior à evolução do Sistema Financeiro Nacional (SFN), de 7,0%. Além disso, a carteira de crédito ativa do SNCC alcançou a marca de R$ 315 bilhões, condição que o consolidou como o segmento do SFN com maior expansão (35,9% no ano). Cada vez mais, os empreendedores têm buscado alternativas menos burocráticas e onerosas de empréstimos, ou seja, com taxas mais atrativas e menores exigências para a concessão.
O crescimento da participação das cooperativas também foi destacado pela 9ª edição da pesquisa “Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil”, realizada pelo Sebrae e publicada em dezembro. O estudo, que analisa a maneira como empreendedores desse porte são financiados, mostrou que o crédito esteve menos concentrado nos últimos seis meses na comparação com a série histórica. Isso vale para instituições mais procuradas, assim como para aquelas que efetivamente concederam empréstimos. Apesar de os maiores bancos públicos ainda serem as fontes mais procuradas, as duas principais cooperativas de crédito do país, se somadas, já ultrapassam a participação do Banco do Brasil no montante de pequenos negócios contemplados, o que dá a dimensão do cenário atual.
Cursos e treinamentos
Embora essa participação no mercado tenha avançado nos últimos anos, bem acima do crescimento geral do SFN, há ainda muita margem para expandir. “O baixo conhecimento de gestão, a necessidade de formação de lideranças e o dever da prática de governança corporativa são alguns dos desafios que muitas cooperativas de créditos ainda enfrentam no Brasil”, avalia. “Se elas não dispõem ou não conseguem seguir uma estratégia de gestão, todos os associados correm o risco de ser prejudicados”, acrescenta Delôgo, que também é especialista em Estratégia de Mercado e em Equipes de Alta Performance. A saída, sem dúvida, passa pela preparação de times e gestores comerciais, diretores, presidentes e conselheiros das organizações.
Nem todo mundo sabe atuar em cooperativas e, para quem está em busca de conhecimento, há diversos cursos e treinamentos práticos on-line e presenciais. E o que não falta é opção: de Formação de Gestores e Agentes de Negócios, a Análise, Gestão de Riscos e Recuperação de Crédito, além de Capacitação da Alta Gestão, Investimentos e Governança para conselhos de administração. “Além da preparação de quem está em cargos de liderança, é fundamental treinar todo o time, passando pelas técnicas de negociação e vendas, excelência no atendimento e planejamento estratégico. As possibilidades oferecidas hoje são enormes”, garante o especialista.
Dadas as especificidades de cada cooperativa, o importante é desenvolver uma metodologia própria, personalizada e que leve a resultados de curto, médio e longo prazo. “O trabalho precisa ser feito com consistência, já que a disciplina traz resultados mais duradouros. Nesse sentido, é primordial fazer um mapeamento do mercado e ter um planejamento estratégico e detalhado, com uma gestão de processos eficiente, que trabalhe o relacionamento e cuide do giro de carteira de cooperados/associados de forma diária, dentre outros aspectos”, ressalta Delôgo.
Nova regulamentação
Em agosto de 2022, foi sancionada a Lei Complementar 196, que definiu o novo SNCC. Com a reformulação discutida com o Banco Central, o sistema foi passou a ser dividido em duas modalidades. A primeira é constituída pelas cooperativas, que conta com as instituições singulares, centrais e confederações. A segunda, por sua vez, é composta pelas confederações de serviço, formadas exclusivamente por cooperativas centrais de crédito, a fim de prestar serviços específicos e complementares. Dentre diversas diretrizes, a legislação apresenta regras de gestão e governança, permite o pagamento de prêmios e bônus para a prospecção de novos associados, torna impenhoráveis as quotas-parte de capital dessas organizações, além de inserir e prever regras de desligamento de uma instituição singular da que é central.
Para Delôgo, diante dessa recente modernização da legislação e do aumento da procura pelo crédito cooperativo, as oportunidades estão aí para ser aproveitadas. “Informação e transparência são as chaves que toda organização deve dar aos seus associados. Não tenho dúvida de que uma gestão pautada nos valores da governança corporativa, com conhecimento, transparência e liderança é fundamental para guiar a instituição de forma harmônica. A aposta na formação continuada é a receita do sucesso”, finaliza.
Fonte: Portal Comunique-se