Na Zona Norte de Porto Alegre, a Vila Nossa Senhora Aparecida é o resultado de 26 anos de lutas e conquistas, que começou como uma ocupação de famílias desabrigadas e se transformou numa comunidade de quatro mil moradores, com asfalto, saneamento, luz e até moeda local.
Uma creche que atende hoje a comunidade nasceu da necessidade de acolher os filhos das costureiras enquanto elas trabalhavam. Nos estabelecimentos da vila, tem desconto para quem paga com a moeda local, o justo, criado também pelas costureiras. A ideia do banco comunitário é estimular as pessoas a consumirem dentro da vila.
O que começou para gerar renda a donas de casa e mulheres desempregadas, hoje é apenas parte de uma rede de pequenas empresas que funcionam da mesma forma: uma rede de cooperativas que dá conta de todas as etapas de produção, desde o plantio do algodão. Elas dividem o trabalho, as decisões, os lucros e os prejuízos.
“A gente conseguia costurar e ter renda, mas nós dependíamos de alguém que fizesse o tecido e definisse o valor do tecido. E se nós tivéssemos uma outra cooperativa igual a nós, que fizesse tecido, que fizesse fio, e imagina então alguém plantar algodão orgânico! E a Justa Trama é esse resultado, de juntar as várias etapas do processo de produção. Esse caminho de ser coletivo não só dá resultado no sentido daquilo que a gente se propõe e sobretudo no sentido da geração de renda, mas sobretudo na transformação das pessoas”, diz Nelsa Inês Fabian Nespolo, presidente da cooperativa Justa Trama.
A serigrafista Catiane Caetano da Silva se emociona ao ler a frase de Cora Coralina: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.
“Eu não sabia nada, quando entrei na serigrafia. Eu aprendi tudo com minhas colegas. Elas que passaram para mim tudo que eu sei hoje”, diz Catiane.
Fonte: G1