Gostei da sabedoria da consagrada atriz norte-americana Meryl Streep, de 72 anos, 21 vezes indicada ao Oscar, considerada pelos autores especializados como a melhor atriz de todos os tempos, quando disse: ” O envelhecimento é um privilégio negado a muitos”. Como a saúde é o nosso maior patrimônio, é necessário ao longo do tempo cuidar dela para se chegar a um envelhecimento saudável. E se durante a vida a pessoa tem a consciência de que é importante ser financeiramente previdente, o envelhecimento chegará como um privilégio.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem, atualmente, no país, cerca de 29 milhões de pessoas idosas; em 2042, serão 57 milhões. Segundo um relatório das Nações Unidas, o número de pessoas com mais de 65 anos superou o de crianças menores de cinco anos pela primeira vez na história.
A chamada “terceira idade”, nome dado no Brasil para identificar pessoas com mais de 60 anos, os chamados “ velhinhos de cabelos grisalhos ou brancos”, graças a mudanças sociais, econômicas, de saúde e de educação, vêm passando por mudanças consideráveis no seu estilo de vida, ganhando um novo nome: “Geração Prateada”.
Esses idosos que crescem no mundo como um verdadeiro tsunami etário, também refletem na economia dos países, surgindo como um novo público que consome mais produtos alimentícios, de moda, investem em viagens turísticas, buscam a prática do exercício físico em academias, participam da vida noturna, procuram o relacionamento com pessoas mais jovens, etc.
Essa geração é hoje responsável por cerca de 20% do consumo no nosso país e a tendência é aumentar gradativamente. O ganho com a aposentadoria, com o trabalho extra, com o rendimento de aluguéis, com aplicações financeiras, planos de previdência privada, entre outros, demonstra a existência de uma geração disposta a investir em si mesma para manter ou até adquirir outro vantajoso estilo de vida. Essas pessoas querem atenção; querem que se olhe para elas como parceiras e não como um peso nos ombros.
A Pipe Social e a Hype60+realizaram, em 2018, uma pesquisa batizada de “Tsunami Prateado”, junto a 2.242 pessoas idosas. Qual o principal resultado quanto aos hábitos e costumes? Cerca de 52% responderam que não são fieis a nenhuma loja ou marca. Aí surge a oportunidade de buscar meios para fidelizar a clientela de pessoas idosas. Essa mesma pesquisa passa as seguintes recomendações:
1) divulgar sua marca através de campanhas de marketing e relacionamento com os consumidores; 2) compreender as necessidades e caprichar no atendimento ao cliente, evitando usar linguagem sofisticada para facilitar a comunicação e o entendimento por parte da clientela; 3) pensar nos produtos e serviços que se adequem às limitações das pessoas da terceira idade; 4) os idosos também estão nas redes sociais, no universo digital, buscando informação sobre tudo o que lhe interessa. Não se pode ignorar essa realidade.
Em resumo, o que deseja a Geração Prateada?
Seus integrantes querem ser reconhecidos como pessoas que podem ajudar o desenvolvimento de sua comunidade; exigem respeito, atenção e reconhecimento pelo seu passado, principalmente quanto aos aspectos laborais e de arte e cultura; querem ter suas opiniões entendidas e valorizadas; almejam ter atividade social; esperam ser tratados como qualquer cidadão adulto com capacidade de discernimento e poder de decisão; querem viver essa fase da vida com alegria consumindo mais; desejam que as instituições/empresas com as quais se relacionam envidem esforços para criar ações que possam melhorar suas vidas.
Como disse o filósofo e educador Mário Sergio Cortella: “Cabe destacar que nem tudo que vem do passado é ultrapassado. Muita coisa que vem do passado precisa ser levada adiante”. Finalmente, acrescento que ser idoso é viver o presente, pensando no futuro com a experiência do passado. Nunca esquecer que a história é o alicerce do futuro.
Por Murillo Ronald Capella, Médico e Professor Universitário
Conteúdo exclusivo publicado na Revista MundoCoop edição 105